Mundinho desfeito
O quê?não existem príncipes encantados? - ela olhava com aquele par de olhos arregalados, como se fosse a última coisa a ser ouvida no mundo.
- Não, minha filha - a mãe era a portadora da bombástica notícia - infelizmente não funciona o mundo de conto de fadas, aqui no mundo da Maria!
- Mas mãe, você me afirmou que eu sempre seria princesa e que um dia eu encontraria meu príncipe, que me salvaria, me olharia com amor a primeira vez que encontrasse meus olhos e me levaria para o reino dele. Você me contou quantas vezes essa mesma história. Agora me diz que não existe?
- Chegou a hora filha! Precisa sair desse mundinho de fantasias e viver a realidade. Você precisa descobrir a vida, não esta imaginária, a verdadeira, real que também pode trazer surpresas muito agradáveis...
- Pode trazer? mas também pode não trazer? pode trazer surpresas desagradáveis?
- Sim! - a mãe estava acostumada com as perguntas da menina de uma hora para outra como se fizesse um recorte no tempo e quase sempre eram perguntas óbvias, mas que precisavam ser respondidas naquela cabecinha sonhadora - você tem razão filha! Pode ser que a vida reserve coisas boas e ruins. Mas funciona assim!
- Mas eu não quero mãe! Quero minha vida de princesa! Você me prometeu! Eu acreditei... e agora? eu não saberei viver lá fora!
- Ah filha, você se surpreenderá com as coisas de que será capaz de suportar, de consertar, de construir, de juntar, de deixar quando tem que ser deixado, de partir, de amar, de deixar-se amar... Vale a pena!
- Mãe... tenho medo! Ontem sonhei que o meu príncipe me dizia que viria ao meu encontro. Eu o eperava por horas, dias eu diria. E ele não veio. Tentei esticar um pouco mais meu sono, mas minha mente não mais conseguia enxergá-lo. E agora vem você e me diz que ele não existe? Seria presságio mãe?
- Quem sabe filha, você acordou para encontrá-lo aqui fora! Ele talvez já tenha saído do mundo de sonhos e está a sua espera. Vá encontrá-lo! Mas aqui te garanto: ele não virá!
- E se eu sair e não achá-lo mãe? Melhor, como vou reconhecê-lo? Tem tantos rostos lá fora. Alguns até se assemelham com a ideia que eu tenho do meu príncipe. Outros não possuem o mesmo rosto, mas tem um jeito encantador. Como saberei que é ele?
- Não há como explicar minha filha! Você saberá, simplesmente assim. Ao contrário do seu mundinho de sonhos, ele terá um rosto definido, uma personalidade única e um jeito inesquecível. Talvez não realize todos as tuas vontades, mas você acabará cedendo às dele, como ele fará esforços para compreendê-la. Não precisará passar o tempo todo ao teu lado, mas você terá certeza que ele estará lá da mesma forma que a sua constante presença na vida dele.
- E o que eu faço agora? quais os passos? como saber o que vou encontrar? Serei feliz?
- Só viver a vida! - a mãe penalizada dizia calmamente - Viver Maria! Nunca se sabe exatamente o resultado. Encontrarás algumas pessoas que talvez te tragam à tona um lado seu que você não sabia existir. Outras te lembrarão que sua história não acabou. Outras te surpreenderão. E de vez em quando você surpreenderá a si mesmo. Lembre-se sempre que embora não pareça, mas sempre há concessões, há sempre um modo de se conseguir um pouco mais. E se não conseguir, é porque acabou mesmo. Pode ser que às vezes o que tinha nunca voltará e embora seja doloroso, é preciso achar a força para seguir em frente, continuar buscando o amor... Talvez não aches no primeiro aquele ingrediente perfeito ou talvez ele não veja em você o encaixe certo. Será assim: encontros e desencontros. Ficar em busca, te manterá sempre viva, desperta. Não importa quão longe ou profundo tenha que ir para encontrá-lo.”
A menina estava visivelmente assustada. Mas entendera finalmente.
E não é que ela foi viver a vida mesmo!?
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